quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Diário de uma idiota



I would be lying if I said I didn't miss that giant man.
He was the line between pleasure and pain ♪



Cheguei em casa tarde naquela noite, pela primeira vez tive um dia de trabalho cansativo, continuava me esforçando para não pensar em coisas - ou pessoas - que me pudessem fazer mal. Aquela prova de resistência já durava três semanas, e eu sempre aceitei as mudanças da vida de uma maneira bem tranquila; mas ver a cama vazia, o fogão limpo e a louça lavada me dilacerava aos poucos. Foram quase dois anos me acostumando diariamente com a presença dele, foram quase dois anos me sentindo culpada no final de cada desavença, foram quase dois anos que eu dormia feliz ao lembrar daquele sorriso.

Nos conhecemos no colégio, ele era o garoto tímido que escondia-se atrás de um par de óculos. Meu amigo de olhos verdes dono do sorriso mais lindo do universo.Ele acenava de longe enquanto eu conversava com as garotas, e eu sorria discretamente para não constrangê-lo. Aconteceu numa situação estranha, no caminho do colégio para a casa, embaixo de um sol de 40ºC. Ele estava vestido de preto, porque sabia que assim destacaria os olhos verdes, ele tambem sabia que eu sabia disso. E sabia que aquele par de olhos me hipnotizava. Foi naquela tarde ensolarada que ele me beijou sem avisar, eu não queria acreditar, porque me parecia mais certo que eu o amasse em segredo, e que ele continuasse me presenteando com seus sorrisos... me castigando com seus beijos de amigo.

Sempre me preocupei em ser a namorada perfeita, aquela que conquista a família do garoto e que sorri sempre que está acompanhada dele, a namorada que não se importa com as amizades do sexo oposto, e que até se convida a conhecer as tais amigas. Mas foi tudo ao contrário! De repente percebemos que não vale a pena fingir algo que não somos. E eu sabia que se ele me amasse de verdade, me aceitaria dessa forma... ele aceitou. A verdade é que eu me mordo de ciúme, mal conheço a família dele, tenho medo de pisar na casa dele, e não suporto a sensação de vê-lo indo embora depois de uma tarde inteira juntos. Eu acabei me esquecendo dos bons modos e não me importava com o que ele pensaria sobre isso, afinal ele me amava não? Não é mesmo?

Costumávamos passar a tarde deitados no meu quarto, as vezes conversando, as vezes nos beijando, as vezes sorrindo, e quase sempre dormindo. Sempre preferi manter-me de olhos abertos admirando-o dormir. Não só pode, como parece sentimental demais para uma história adolescente, mas quando você amar uma pessoa de verdade, não vai conseguir explicar a sensação de assisti-la dormir enquanto pensa sobre seus momentos juntos, e imaginar como serão seus futuros. Você vai achar insuportável a dor perdê-la, pelo menos era como eu me sentia até perdê-lo. Se não tomarmos cuidado com nossos medos excessivos, a vida pode fazer deles um pesadelo de olhos abertos.

Acabei me tornando a namorada chata e imperfeita que lutava contra mim mesma para não ser. Meu ciúme fugiu do controle, minha noção tambem, e eu só queria tê-lo comigo. Foi num desses empregos para iniciantes que ele a conheceu, era uma amiga e apenas isso, mas é uma pena que eu tenha demorado para entender. Sou a pessoa que sente ciúme e se afasta, de verdade, a pessoa que sofre em silêncio, a pessoa que quando é magoada foge de seu próprio ser. Não, eu não tenho nenhum problema psiquico, apenas a mania de pensar que as pessoas não têm motivos para me amar, e por isso elas não o fazem. "Ela é bonita, e fiz amizade com ela", isso foi tudo o que ele disse, e foi tudo o que precisei ouvir. As coisas já não estavam como antes, algo fizera com que minhas borboletas voassem para longe, e eu sentia falta delas. Entrou em ação minha mania de afastar quem amo quando sinto-me ameaçada, e tudo simplesmente acabou; não me lembro de alguma outra noite na qual eu tenha chorado tanto.

Me foquei no trabalho e nos amigos, eu sorria durante o dia e dormia durante a noite, eu não queria me pegar sozinha ouvindo músicas tristes e chorando como uma criança que se perde da mãe. Afinal de contas, alguém quer isso? Mas naquela noite eu precisei me sentir viva, eu precisei quebrar um copo de vidro, precisei abafar um grito dolorido no travesseiro, precisei chorar até borrar toda a maquiagem dos olhos.


Continua
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