sábado, 14 de janeiro de 2012

Diário de uma idiota III



I would be lying if I said I didn't miss that giant man.
He was the line between pleasure and pain ♪



Em toda a minha vida, casamento parecia o erro mais estúpido já cometido pelo homem. Não me imaginava dividindo meu chão, meu teto, meu sorvete e minha banheira com outro alguém, talvez porque tambem não havia imaginado que primeiramente se divide o coração, e depois as coisas materiais. Eu poderia continuar com essa ideia nos últimos dois anos, mas com ele essa história não estava fora de cogitação, eu era nova e com uma longa vida pela frente, mas se ele continuasse me amando quando meu cabelo perdesse a cor, e minha vida parecesse atrasada demais para fazer coisas de adolescentes, talvez nesse momento eu aceitasse me prender para sempre numa vida de casal, numa eterna oportunidade de dividir tudo com quem amo. As coisas de gente mais velha parecem não ter graça agora mas, pensando no futuro de uma maneira positiva, dividir todos os dias da vida com alguém que te ama, acordar ao lado dessa pessoa e entender o motivo da felicidade, é uma forma de perceber que a velhice não é algo tão ruim, e que o amor pode nos ajudar a aceitar isso de um jeito melhor.

Eu estava disposta a esquecê-lo, sempre ouvi dizer que a independência é importante durante qualquer relação, mas só agora senti falta dessa independência que não tive. Eu era uma garota de muita sorte, sou até hoje! Com ele não fui feliz para sempre, mas dois anos não me parece um curto período. Se eu não encontrasse um outro alguém, aprenderia a viver feliz sozinha, afinal sou uma garota de sorte. No começo é dificil aceitar a perda, são novas experiências, novas sensações, novos programas para fazer sozinha ou apenas com amigos. As vezes tomar sorvete sozinha pode ser ruim mas, nada como perceber que no apartamento ao lado existe um casal de namorados em meio à uma crise. Eu não tinha namorado, mas tambem não tinha crises... pelo menos não com ele.

Na noite de sexta-feira preferi não ir à aula. Aumentei o volume da voz do Jim Carrey, me peguei chorando de rir, dormi depois de muitas gargalhadas, com a sensação vitoriosa de alguém que venceu a solidão sem o menor problema. Voltar a me amar, me lembrava a época da adolescência, fazia-me sentir como tal. Eu havia me esquecido de como é bom dar a volta por cima. Na noite de sábado um encontro com os amigos me roubou do Jim Carrey, minha lista de filmes engraçados continuava grande. Meu vestido preto e lindo, meu salto alto e glamouroso, minha maquiagem misteriosa, e minha imagem refletindo amor-próprio no espelho. Essa sou eu! Chegar em casa cansada o suficiente para não pensar em nada relacionado a dor é algo sempre útil. Aquele meu domingo pode ser resumido em sorvete e comédia, eu me amei por conseguir sorrir sozinha, por não precisar pagar um profissional para ouvir minhas histórias dramáticas de garotas que perdem o namorado.

A semana começou bem, e eu passei o dia me perguntando o que fazer em relação ao caminho de volta para a casa. Decidi que enfrentaria aquele olhar quantas vezes fossem necessárias, não mudaria meu caminho nem meu verdadeiro eu. Qual a melhor forma de resolver um problema se não encarando-o frente a frente? Talvez eu até o parasse na calçada para perguntar sobre a garota do dia, ironia sempre foi o meu forte. E lá fui eu naquela noite, livros aquecendo meu estômago agitado, botas arrastando-se pela calçada, braços encontrando-se bruscamente com o vento gelado. Procurei me focar no caminho, e na música que tocava em meus fones de ouvido. Caminhei tão calmamente que se naquela noite ele passou, não o vi. Meu sorriso ao passar pela porta de casa seguiu por todos os cômodos, eu começava a admitir que seria melhor me recuperar sem ser necessário vê-lo. Minha alegria se conteu quando a campainha tocou, meu coração tentou gritar mas eu segurei a voz e limpei a garganta. "Não senhor, não pedi comida chinesa mas obrigada por oferecer. Boa noite!", me arrependi pela grosseria no tom de voz, mas isso geralmente acontece quando me impedem de ser feliz. A campainha voltou a tocar, e eu voltei a gritar.

- Senhor, eu já disse que não pedi nenhuma comida chinesa.
- Eu tambem não pedi nada!

Eu não sabia o que era mais correto. Chutá-lo para fora do prédio ou perguntar se ele não tem nada melhor para fazer além de infernizar minha vida. O que faz uma pessoa não te encontrar na rua mas ir te procurar na sua própria casa? Acho que aquele cabelo molhado era resultado da chuva fina que começara a cair, ele estava com a barba por fazer, e os olhos continuavam lindos como sempre. Eu ainda pensava no que dizer, mesmo sabendo que agora já não era necessário dizer nada, seria demais pedir para acordar na minha cama e entender que aquilo era um só um pesadelo? De repente minha raiva voltou, me lembrei das amigas, me lembrei do quanto pareci insignificante e chata, eu era chata, e isso me irritava. Eu não o convidei, mas ele entrou. Mania de gente que já dormiu ao seu lado e te viu sem maquiagem de manhã.

- Por que está aqui?
- Me trataria melhor se eu tivesse batido nos caras que mecheram com você na esquina?

Que caras? Meus fones tinham um efeito tão maravilhoso sobre mim e meu mundo, eram meus salvadores de todas as horas, minha fuga para o além! De repente me perguntei o que ele fazia por ali, não havia muito o que fazer na esquina aquele horário. "Digamos que eu tenha te acompanhado, só que discretamente.", sim ele me seguiu, e eu não sei o motivo pelo qual isso me alegrou. Foi um bate-boca daqueles que só um fala, eu coloquei tudo para fora e gritei com todas as minhas forças, mas ele me parou... de uma maneira bem íntima, digamos assim. Isso parece um românce contado por gente depressiva, mas precisamos ler o que desejamos para acreditar que isso um dia pode acontecer! Eu não sei dizer quanto tempo durou aquele beijo, mas sei que depois de ouvir coisas como: "Não me culpe por sua paranóia", "Uma garota por dia? De onde você tira essas coisas? (risos)", dormimos com as pernas entrelaçadas no sofá da sala, luzes ligadas e janelas abertas.

Eu não sei dizer como me senti, mas confessei a mim mesma que borboletas voaram por meu estômago, e eu senti frio na barriga. Olhe só para mim, com um anel dourado no dedo anelar da mão direita. Não sei bem como as coisas aconteceram, mas eu sempre soube da minha sorte! Talvez fosse realmente necessária essa nossa pausa, para que eu pudesse dar a volta por cima, voltar a me amar e acreditar em quem amo. Talvez isso fosse realmente necessário para eu descobrir que não sou uma completa idiota.

Fim


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