Amarga Lembrança IX

- Alô?
- Oi Mel. Como vai? - do outro lado da linha, a voz de Adam soprava.
- Eu vou bem, e acho que você também!
- Por que diz isso?
- Pelo barulho... a festa deve estar bombando.
- Ah é, estou numa festa bem agitada comemorando a virada do ano. Mas preciso que me faça um favor.
- Pode falar.
- Não sei onde seu primo se meteu, ele estava no meu apartamento mas de repente sumiu, e pra variar esqueceu o celular comigo. Pode ver com seus pais se ele por acaso deu uma passada ai?
- Ah claro. Meus pais estão lá em baixo na super festa intediante que organizaram, mas eu vou até lá falar com eles. Me espera na linha?
- Com certeza!
Com o celular aberto em uma das mãos, levantei da cama e fui abrir a porta ainda descalça. Adivinhem vocês! Dei de cara com aquele par de olhos castanho-esverdeados bem ali na minha frente. Ele me olhou com um sorriso torto, e fechou o celular que soltou um ruído. Isso me fez olhar para o meu aparelho que ainda estava aberto em minhas mãos. Ficamos nos encarando por um bom tempo, e não pensem vocês que pareceu uma daquelas cenas de filme de Hollywood, e mesmo se fosse, a música de fundo - que tocava no andar de baixo, durante a festa - não era das melhores. Eu simplesmente não tinha o que dizer quando Adam ficava frente a frente comigo, era estranho porque eu costumo falar como doida, mas todos os meus assuntos, e todas as minhas palavras bem formadas perdiam total sentido, quando ele chegava perto de mim. E como sempre, foi ele quem rompeu o silêncio, sabendo que eu jamais faria isso, com medo de soltar alguma idiotice.
- Olha, você fica realmente linda de preto mas... dizem os supersticiosos que passar a virada de ano vestindo preto, não atrai muita coisa boa. - Eu sorri.
- O que está fazendo aqui hein? Você realmente conseguiu me enganar.
- Você sumiu por uma semana, não ligou nem apareceu. E então Michael me disse que você provavelmente estaria trancada no quarto, por conta da festa que seus pais organizaram.
- É, ele me conhece bem!
- Ah Mel, não faz drama. Não parece tão chato, quanto você diz.
- Já ouvi muito isso.
- Então anda, vai se arrumar; nós vamos descer, tem gente nos esperando lá em baixo.
- Tá maluco? Eu não vou pra essa festa de jeito nenhum. Minha mãe só sabe se gabar na frente dessa gentinha, como se eu fosse a primeira pessoa do mundo com 17 anos que entra numa bendita faculdade.
- Eu só disse que nós vamos descer, não disse para onde.
- O que quer dizer?
- A garagem, e a saída ficam no andar de baixo certo? - Adam sorriu torto de novo, meu coração disparou de novo, e eu só consegui sorrir, de novo.
- Te espero lá em baixo, Michael e eu estamos conquistando a confiança de seus pais, para liberarem nossa saída.
- Tá brincando né? Pode até ser que eles confiem em você, mas confiar no Michael é meio improvável.

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