No Começo de Setembro

Eu poderia ter certeza do lugar para onde estamos indo, se o futuro me dissesse o que aconteceria ao chegar lá. Eu poderia jurar que você só não deixa a barba crescer por minha causa, que não arruma o cabelo porque sabe que fica lindo com ele bagunçado. Eu poderia ir até onde o mundo permitisse, se você me dissesse que vale a pena, e que isso não causará futuros arrependimentos. Nós poderíamos suprir todas as necessidades com nossas mãos grudadas e um pouco de luz.
Você se lembra da vontade de voar que jamais pudemos alcançar? Se lembra das vezes em que queríamos um pouco mais de tempo para se aproximar? Se lembra de quando deixava o ônibus ir embora para que os últimos minutos pudessem superar as longas horas da noite? Se lembra de quando se lembrava de mim olhando para aquele ursinho de pelúcia que te fez passar vergonha? Você se lembra do cheiro que custou a sair de seu quarto? Eu me lembro.
Eu nunca tive um sinal de que as coisas seriam mais resistentes, não tinha certeza do que fazia, e até pensei que era hipocrisia juntamente com a falta de raciocínio que sempre me acompanha. Me arrependi de te colocar na minha vida sem saber quem desta vez seria a vítima do final, mal sabendo que o futuro havia se esquecido de tal personagem. E como quem acorda de repente para uma realidade pouco ambiciosa, descobri que se não houver riscos e dor jamais haverá felicidade, é a lei da vida... ou as minhas linhas foram escritas uma por cima da outra, fazendo com que a última palavra se encontrasse com a felicidade.
Se na maior parte do tempo você procura saber o que há dentro de meu cérebro, deve saber que ele caminha para longe e volta de repente; passeia por meu futuro incerto e viaja para meu passado, onde encontra resistência e motivos para acreditar que o tempo parece estar atrasado. Você se lembra dos doces que te obriguei a ingerir? Se lembra dos apertões que te deixavam vermelho? E do nosso caso que na maior parte do tempo, parecia mais com uma relação entre melhores amigos-barra-irmãos-barra-namorados-barra-mais alguma coisa que não sei descrever? Eu me lembro dos seu traços de sono, dos seus olhos claros, das indiretas, da sua mania de me torturar com roupas escuras, e do sorriso viciante que você soltava ao vento e eu roubava para mim. Eu me lembro até do que ainda não aconteceu, porque sei que me encaixo perfeitamente no seu abraço.