quinta-feira, 21 de abril de 2011

Um Dia Ruim


Foi uma manhã como qualquer outra, o despertador gritou dez minutos depois de ela ter fechado os olhos, a distância pequena entre o quarto e o banheiro nunca demorou tanto para se desfazer, entre um passo e outro, ela parecia se arrastar sobre o carpete, e muito tempo depois conseguiu se olhar no espelho com a toalha de rosto branca nas mãos.
O guarda-roupa que era sempre sua salvação, naquela manhã virou as costas e negou-a toda e qualquer sugestão. Por fim, se encontrou com o pior sentimento de insatisfação, e com as chaves balançando por entre os dedos, passou pela porta branca que já tinha o poder de deixá-la cansada, por pouco não foi vencida pelo irracional pensamento de voltar para a cama, ela não deveria nem ter cogitado, pois o resto do dia a fez sentir arrependida por não tê-lo feito.
Voltou para dentro milhares de vezes, sempre adicionando ao bolso do casaco, pequenos objetos de seu constante esquecimento. Logo a primeira vista o céu não se mostrava alegre, as nuvens pesadas e sem o mínimo toque de colorido, choravam sobre toda a cidade, enquanto todos se protegiam de sua água salgada, com pequenos guarda-chuvas e passos largos.
Foi quando esticou os braços procurando chamar atenção de um táxi, que a água foi em sua direção, uma poça tão grande, um casaco tão limpo e quente, um táxi desastrado que a fez chegar atrasada e ouvir o que não queria - nem poderia. O relógio nunca demorou tanto para arrastar seus ponteiros, esses pareciam sem piedade de sua roupa encharcada, e foi na tentativa de distração, que esvaziou sua caneca de café rapidamente.
Muitos sacrifícios e minutos lentos depois, enxergou na pequena tela do celular a hora de ir embora, e uma mensagem de quem esperou ver o dia inteiro. Sempre soube que o tempo é algo precioso, e que devemos tirar deste o máximo de proveito que pudermos, já que um minuto depois da felicidade, jamais voltará a ser o que foi naquele momento; mas não poderia negar o sorriso brilhante que encontrava em si mesma, quando todos aqueles objetos pequenos voltaram para dentro de seu bolso, e enfim pôde girar a maçaneta daquela porta que já a deixava cansada.
Foi depois daquele coração feito com o dedo no espelho embaçado de vapor, enquanto a água quente caia sobre si, que aquecida pelo pijama de quando era mais jovem, percebeu a porta do quarto se abrir, e o viu passando por aquelas quatro paredes cor de areia, com xícaras de café doce na mão, e um sorriso de saudade onde ela poderia se encontrar, antes de bagunçar os lençóis, e acordar tarde agradecida pelo final de semana ter finalmente aparecido.
Sem lástimas, é quando a noite cai que sorrimos, e não nos preocupamos com aquele dia ruim!

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