segunda-feira, 11 de abril de 2011

Quietude


Ambos possuímos esconderijos, ainda que internos, ainda que invisíveis; para corrermos de tudo o que nos afasta da arte de sorrir, para pensar em tudo o que realmente importa quando sem querer perdemos o foco, ou para simplesmente ouvir uma música calma, enquanto nos lembramos de quem desejamos compartilhar um momento tão quieto como esse.
Foi caminhando pela cidade agitada, que avistei uma criatura encolhida, com seu par de olhos fechados, e os braços cruzados apertando o cachecol contra seu corpo. Talvez estivesse apenas desfrutando de seu esconderijo, que não poderia jamais apagar sua imagem física, mas tinha o dom de manter invisível qualquer sentimento que lhe pudesse causar medo, aí está uma forma pouco racional de fugir do mundo cruel, ao qual somos obrigados a viver nos dias de hoje. Ou talvez, aquela mente estivesse apenas tentando enxergar seu futuro distante, ao lado de quem ainda não lhe havia alcançado.
De repente me peguei próxima o suficiente, para ler na pequena tela de um aparelho escuro, uma frase que apagou e reescreveu milhares de vezes, antes de respirar fundo e pressionar o botão de envio.

"Estou indo para longe daqui. Coloque apenas um prato sobre a mesma, esta noite!"

Como sempre, seria fácil imaginar um final feliz para quem na verdade, quer apenas se esconder da realidade angustiante e inevitável; seria bonito e viciante, imaginá-la correndo para os braços de um único amor, ao qual viveria para sempre, longe de todo e qualquer tipo de tristeza. Mas talvez sua real felicidade estivesse longe dele; longe de suas fotografias de infância, das roupas jogadas em cima da cama, dos perfumes que não conseguiu esquecer, e das milhares de frases que rabiscava mentalmente, enquanto se mantinha escondida em seu próprio mundo, fechado para reformas e proibido para visitas.
A verdade é que podemos jogar toda a culpa, em cima do barulho da grande cidade agitada; podemos fingir que deixamos de atender o telefone, pois não o ouvimos tocar; ou simplesmente correr para dentro de um táxi perdido, para não encontrar quem ainda mantém nossos corações distantes. Mas o esconderijo, seja ele físico ou não, possui o maior dos silêncios, tal qual nos leva mentalmente para qualquer outra dimensão, para qualquer outra história, onde vivemos o que queremos viver, ouvimos o que queremos ouvir, e sentimos, o contrário do que o mundo de hoje realmente nos proporciona. Sentimos e tocamos o mais puro dos amores, porque em um ambiente quieto e silencioso, ele não grita por atenção, não foge de sorrisos assassinados, e não corre de quem lhe entrega a própria vida.

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