sexta-feira, 22 de abril de 2011

Necessidade


Ele havia arrancado o carro da garagem a menos de vinte e quatro horas, meu quarto já perdia o rastro de seu perfume pouco doce, e se não fossem os milhares de porta-retratos, talvez não demorasse muito para que eu me esquecesse por completo, de seu sorriso constrangido pela falta de motivos para uma partida tão rápida. Nós sabíamos que não demoraria muito, até que todas aquelas fotos estivessem rasgadas em pequenos pedaços, habitando o interior da lata de lixo, talvez as imagens antigas fossem destruídas mais rapidamente com uma pequena faísca de meu isqueiro, mas poluir o ar com tantas lembranças desnecessárias não me pareceu o correto a ser feito.
De repente substituí os milhares de filmes românticos da prateleira, por uma história meia louca, com uma capa engraçada e de muito bom-humor, foi quando percebi que precisava sorrir, mais interiormente do que fisicamente. Falando sobre corações inocentes que costumam se culpar, ou não se amam o suficiente para seguir em frente, posso dizer com plena certeza que, algumas dessas mentes sem nenhuma culpa, procuraria um erro que jamais foi cometido, ou simplesmente se acabaria em lágrimas sobre a cama, imaginando que jamais foi importante para aquele que acaba partir, e que se o teto caísse sobre seus neurônios, ele não se preocuparia em dar meia volta atrás de notícias.
Fingindo - ou realmente acreditando - que meu coração se sinta culpado pela arrancada dos pneus, e que eu esteja procurando o motivo, pelo qual ele pisou com tanta força no acelerador. Eu não poderia me entregar a músicas melancólicas ou filmes românticos e apaixonados, seria dramático demais para minha imagem de durona, que a maioria da sociedade conhece - ou finge que existe.
Eu simplesmente fui em busca de alguém que realmente precisasse de mim, alguém que correria com todo o fôlego de seu corpo, e faria o tempo parar para me alcançar; e foi olhando no espelho que a encontrei. Foi por aquela imagem do reflexo que não chorei, por aquela moça descalça que insisti para ter independência sentimental. O meu amor é o suficiente; e se hoje fosse meu último dia, eu teria companhia... a minha companhia!

2 comentários:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...