sábado, 23 de abril de 2011

Além da Ficção


Ela tem cabelos castanho-avermelhados, suas pequenas sardas nas maçãs do rosto e na ponta do nariz, entram em contraste com o sol no final da tarde, e ela não se cansa da rotina e dos livros que se encontram na cabeceira quando a noite cai. Era uma daquelas noites em que abre o livro de romance, sabendo que o mesmo amanhecerá jogado sobre o carpete, enquanto o sol volta a bater delicadamente no vidro da janela. A manhã ainda estava longe de se aproximar, seus pés balançavam freneticamente por debaixo do lençol macio, e sabia que sua mente estava passeando por qualquer lugar do mundo, menos no livro que aos poucos se fechava sem perceber.
Levou seus pensamentos para longe de onde realmente estava, e não demorou muito para voltar ao restaurante francês, onde almoçou no começo do mês passado. Sua companhia - não por acaso do sexo oposto, possuía um bonito sorriso, dentes brancos até demais, e pequenos cachos negros por sobre a cabeça. Até o ar parecia incomodado com a situação, que não era nem um pouco natural e espontânea, as coisas não iam tão mal, até ela sair pela entrada principal após descobrir, que as crianças daquela foto 3x4 eram de autoria daqueles cachos negros. Ora! Pretende se reproduzir até quando?
Sua mente não pretendia voltar ao livro de romance tão depressa. Seus olhos castanhos se mantiveram abertos, enquanto assistia com evidente nitidez, uma noite de Sexta-feira em um, dos milhares cinemas da grande cidade. Estava disposta a deixar de lado o medo e insegurança, que a tempos lhe impediram de ser feliz, sempre fazendo-a culpar a si mesma, por algo que nem o destino achou ser o correto!
Aquele outro rapaz, aquela outra noite, aquele tão conhecido cinema no qual costumava gargalhar com sua turma de amigos. Ele tinha cabelos finos e claros, olhos não tão azuis quanto o céu, e uma marca de cicatriz perceptível até demais, do lado esquerdo do nariz. Ela não fugiria, nem desligaria o telefone com tanta rapidez, se ele contasse com mais calma que sua ficha criminal não era das mais limpas.
Longe de voltar sua atenção para o romance de capa amarelada, foi inevitável não se lembrar do último final de semana, onde o rapaz de pele morena e sorriso tímido poderia ter a chance de conquistá-la mais de uma única vez, se não mostrasse espontâneamente, que costuma dar às moças como ela uma enorme quantidade de carinho, para só então fazê-la chorar por puro prazer ou idiotice. Talvez se ela não fosse perceptiva demais, se não observasse demais, poderia então acabar perdendo o jogo novamente!
Foi com desesperadas batidas na porta que inevitavelmente, sua atenção voltou ao quarto suavemente iluminado, onde segurava com cuidado seu livro que agora se encontrava fechado. Curiosa por não esperar visitas num horário tão elevado, abriu a porta as pressas e não escondeu sua surpresa através dos olhos cintilantes. Ela havia pensado em todos aqueles que não puderam levá-la até a porta de casa, mas fez questão de não pensar naquele que realmente a fez gargalhar. Engraçado até certo ponto, uma vez que procurou em todos os cantos por alguém que a fizesse, se desprender das páginas românticas, para conhecer o amor fisicamente! E foi quando o encontrou que correu mais rápido, por medo da história real não acabar feliz como a ficção, por medo de acreditar em algo que parece não mais existir no mundo atual.
Foi na manhã seguinte que o livro amanheceu esparramado sobre a cama, mas esta não carregava apenas uma pessoa, o lençol cobria dois corpos colados e sonolentos, para provar ao sol que agora invadia o pequeno cômodo, que o sentimento é raro mas não inexistente!

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