A Arte de Escrever

Ela é daquelas que tem dificuldade para se expressar. Observa o quarto desesperadamente, à procura de algo para jogar contra a parede. Não tem paciência para contar até dez, e se não soltar um grito é como se algo estivesse entalado na garganta! Chorar parece mais dolorido do que antigamente, quando sente o cheiro daquele antigo perfume, é como se vivesse tudo de novo, em câmera lenta e lembranças falhadas.
Logo se pega com fones de ouvido no máximo, se o desespero não gritasse tão alto, talvez se preocupasse com o fato de não ouvir sua mãe chamar, mas quem é que liga? Em certos momentos da vida, ninguém merece mais atenção do que a música, simples assim. Corre para a escrivaninha, onde se refere como "local de trabalho", lembra-se da moça sentada no ônibus, entra num personagem nunca antes visto, fonte de sua imaginação fértil demais! E cria uma história, inventa um percurso para aquela figura de cabelos curtos, antes de ter chegado ali. Quando coloca o lápis de lado, encontra sua própria história num papel quase rasgado, por conta da força que usa para apagar seus erros com a borracha.
"- Por quê mesmo não posso apagar o desespero, como apago as palavras?"
Ali a noite se despede, o sol começa a nascer, os fones continuam no máximo, com uma trilha sonora de contos de fadas! Pouco depois se encontra em meio à elogios, conhecidos ou não, eles sempre se identificam com cada palavra, elogiam cada detalhe, e as vezes não abrem mão de alguma piada interna! Mas eles não imaginam de onde surgiu a história. Como se sentiu escrevendo sobre si mesma, usando outra pessoa...
E o desespero? Continua aqui, mas tirou um nó da garganta mesmo sem ter gritado!