sábado, 17 de março de 2012

Você se ama?


Eu estava no trem a caminho do colégio em uma das manhãs da minha nublada infância, reparei numa criatura marcante, uma garota da qual era impossível desgrudar os olhos e mais impossível ainda não reparar. De repente notei que eu não era a única ali que a observava, e como se estivesse presa numa bolha calma e silenciosa, ela jamais se dispersava de seus pensamentos e não mudara a linha de visão uma única vez! É claro que ela não via nada, apenas olhava sem perceber, olhava para o horizonte mesmo sendo impossível enxergá-lo naquele lugar. Ela sonhava de olhos abertos, e não moveu um só músculo do corpo enquanto estranhos à sua volta agiam como zumbis hipnotizados.

Ela usava botas pesadas, talvez como uma maneira rude de expressar sua rebeldia por trás dos olhos calmos. Seus cabelos eram muito bem alinhados e suas roupas não estavam passadas... A maquiagem por outro lado fora muito bem aplicada, como se ela soubesse que aquilo impediria as pessoas de desgrudarem os olhos de seu rosto perfeito.

Ela não se parecia nem de longe com as modelos de invejável beleza que eu costumo admirar em revistas de moda, talvez não fizesse o tipo de todos os homens, na verdade talvez ela nem fosse realmente bonita, mas carregava em seus olhos um mistério que de longe provocava curiosidade. Mas que mistério coisa nenhuma, aquilo em seus olhos era amor... Amor próprio. Só agora eu percebi!

Hoje eu costumo caminhar nas ruas da cidade grande com um par de fones resistentes, essa foi a melhor forma de encontrar a minha bolha de proteção que me livra da realidade. É no som que invade meus tímpanos que eu fujo de qualquer comentário baixo e sujo. Porque eu vou carregar na maquiagem sempre que eu quiser, e se eu gostar, suas críticas serão mentalmente enfiadas em lugares ocultos através da minha mente maldosa.

Eu vou me olhar no espelho uma única vez, e se meus olhos brilharem diante da minha admiração por mim mesma, tudo o que pensam de mim será descartado para a privada mais próxima. Hoje de manhã no trem, meu instinto mostrou diferentes olhares em minha direção, e sem mover um único músculo do meu corpo, deixei que me observassem enquanto eu simplesmente carregava minha mente com coisas positivas, protegida por minha bolha silenciosa.

As pessoas têm mania de pensar que não vivem sem isso ou aquilo, mas a única coisa que precisam para viver é um coração batendo dentro do peito, e mesmo se ele quebrar, a última coisa na qual se deve pensar é a desistência... Se ele quebrar, apenas refaça-o com mais resistência para suportar o próximo impacto, porque você não vai sofrer uma única vez em toda a sua vida; ela é tão maravilhosa que vai te pregar muitas peças pra que no dia seguinte você abra os olhos com o dobro de determinação.

A questão não é se sentir superior aos demais. Quando você se ama, o mundo te ama também! E aqueles que te odiarem são merecedores de pena, pois não têm a capacidade de se amar e odeiam que você seja capaz disso. Não odeie os pobres de auto-admiração, talvez eles estejam procurando entender como se atrai os olhares que chovem em sua atmosfera, talvez as garotas pensem que só te olham porque sua maquiagem está bem feita, e talvez elas nunca entendam que tudo isso é causado por uma qualidade interior, que só pode ser enxergada e tocada por você mesma.

Você não precisa beber para se divertir; não precisa chorar de solidão quando sua única companhia for você mesma. E ninguém é melhor que você por ter olhos mais claros ou cabelos mais compridos.

Esse não é exatamente um texto de auto-ajuda, é apenas uma maneira de explicar como eu funciono por dentro. Você não precisa que o mundo inteiro te ame, uma vez que você mesma se ama o suficiente para a vida inteira!

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