terça-feira, 7 de junho de 2011

Sobre A Garota Que Eu Não Sou


Ela tinha olhos grandes, deduzi que o cabelo castanho fora desfiado na navalha, as roupas simples seriam difíceis de encontrar, e o quarto se parecia mais com um pequeno armário de criança para se esconder do bicho papão. A cama não me pareceu de um tamanho suficiente, as paredes antigas de certa forma alimentavam mentes vazias de inspiração; e a música que tocava era tão calma quanto as cortinas quase transparentes, que se negavam a voar sobre a janela desenhada.

Seu sorriso era discreto e bem traçado, as sardas por sobre as maçãs do rosto, eram apenas detalhes que completavam um rosto fino e esbranquiçado. Os fios de cabelo por sobre a cama, apresentavam-me sua inquietude nas noites pobres de alegria; e os livros românticos jogados pelo carpete, explicavam a enorme vontade de entender um pouco mais sobre o ato de amar.

Para dormir eram necessários os dois travesseiros e mais uma incontável quantidade de bichos de pelúcia, um aparelho telefônico daqueles que toda garota quer ter em casa, e aquelas fotos penduradas na parede de uma maneira desastrada, fizeram-me lembrar da história que jamais vivi, do garoto bonito que nunca conheci; e do sorriso lindo que a ninguém apresentei.

Eu a vi por longos e enganosos segundos, sem rapidamente entender qual fora o motivo para tamanha euforia ao despertar, e fui obrigada a conviver com a demora da sabedoria, para só então entender que naquele sonho vivia metade do que sou, e metade do que sempre quis ser!

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