terça-feira, 10 de maio de 2011

Nostalgia


Ainda encontro cartas amareladas naquela antiga caixinha de correio, não posso acreditar em como conseguem manter uma memória tão incrivelmente intacta; me perguntam se não pretendo voltar à pequena cidade onde tudo cai aos pedaços, mas será que é tão difícil entender que nada sai inteiro dali? Eu poderia voltar, apenas para buscar meus cacos de coração, que se arrastaram até suas forças se esgotarem.
Ainda me perguntam se não sinto falta daquele dono da casa muito bem decorada, me lembro bem daquele lar aconchegante que nunca verdadeiramente me pertenceu! Mas como é que eu sentiria falta do lugar encantador que silenciosamente me roubou de mim mesma? Aproveitando a inspiração quero dizer-lhe que, o que carrego é apenas o resto do que generosamente, resolveu enviar para aquela minha caixinha de correio amarelada. Decidi a pouco tempo convencer-me de que toda aquela devolução atualmente inútil para mim, tem apenas dois sentidos para não por acaso ter ocorrido.
Ou aquele morador da casa bem decorada ainda não se cansou de brincar e acredita que em mim, ainda exista algo para ser destruído, sem contar que pensa de mim ser tão masoquista a ponto de destruir-me sozinha por falta de amor. Ou o maldito ser ingrato, assim como eu não enxergou utilidade naqueles trapos antigos, de onde meu perfume jamais padeceu.
Acredito que as coisas estejam voltando ao normal, aos poucos... mas é então que me pergunto o que é o normal para mim? Jamais negarei sentir falta daquelas inúmeras palavras bem escritas que costumavam tirar toda a razão de meu ser, ou das melodias dançantes que decidi insistentemente não apagar da cabeça. Já passaram-se anos, já foram percorridas milhas e milhas, enquanto troco de fragrância compulsivamente, e sempre me lembro de cada detalhe quando volto a sentí-las.
Acabo de ver através da pequena janela da cozinha, um idoso com dificuldades em depositar o pacote na caixinha amarelada! Pobre senhor, não pode se quer imaginar que tirarei daquela caixa, mais lembranças... mais fragrâncias... e mais pedaços que perdi durante o caminho.

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