domingo, 24 de abril de 2011

Esperança...


Amanheceram naquela manhã de uma forma esquisita, sabiam que se aquele dia terminasse de uma forma desagradável, nada voltaria a ser o que já foi um dia. Ela estava disposta a esperar o tempo que fosse necessário, mas sempre ficou claro que sua confiança dependeria disso, quanto maior a demora menor a esperança, não é uma decisão sua, é natural e acontece de repente.
Aqueles últimos dias serviram para alguma coisa, colocar a cabeça em ordem sempre ajuda, de certa forma ela se preparou para o que o destino lhe devolveria, ou simplesmente resolvesse tomar dela algo que nunca realmente lhe pertenceu. Naqueles últimos dias ela estava ainda mais bipolar, se segurou para não amargurá-lo com seu mau-humor, se supriu da necessidade de abraçá-lo forte, evitando que futuramente suas lágrimas se despejassem como água, isso também é natural.
Ela sabia exatamente o que ele diria, as palavras já estavam gravadas antes mesmo de serem ditas, a um tempo atrás isso seria previsível, mas dessa vez não passava de algo óbvio. Confessou que se manteve duvidosa por um certo tempo, é normal dela pensar que uma situação ruim é apenas brincadeira, essa raramente é a realidade, mas é uma forma de manter sua esperança intacta, e acreditar que ele voltaria sendo o mesmo que sempre foi.
Incrível foi o impacto ao ver aquelas malas ao lado da porta, ela já sabia, mas ainda assim não acreditava, e não pôde evitar a falta de ar. Ele a esperou calmamente, até que descesse os últimos degraus, com a mão apoiada no corrimão ela sorriu amedrontada. Mais incrível ainda foi sua tática de acalmá-la, que pela primeira vez em toda a história, falhou! Simplesmente falhou. E aqueles dedos sobre os dela, aquela aliança fina que os dois usavam, parecia tudo tão pequeno a ponto de sumir de uma hora para outra.
Ele a abraçou forte, prendeu-a em seu corpo como quem não quer sair dali nem por um segundo, e ela se lembrou de quando eram mais jovens, de quando ele costumava abraçá-la dessa forma, e como isso se rompeu com o tempo. Agora que ela realmente voltou a conhecer seu interior, a vida a coloca em teste! É realmente uma pena que tenham esperado até agora para suprir suas próprias necessidades, mas caso ele não volte, ela saberia o que estava levando no coração quando partiu.
Conforme o abraço se afrouxava, ela sentia algo se quebrando dentro de si, tão devagar como se tivesse a real intenção de torturá-la; por um segundo não duvidou disso, e não sabe se ainda duvida. A maçaneta da porta girou, e como num piscar de olhos, o lugar onde ele a abraçava se esvaziou, o chão da casa nunca se mostrou tão vago, as paredes pareciam ocas, e teve medo de falar, para em seguida ouvir ecos de sua própria voz. Essa seria sua maior prova de solidão!
Mas o dia ainda estava começando, de tudo fez para não encostar no telefone, chegou a decorar outros números para esquecer o dele, ou apenas se confundir na hora de discar. Inventou coisas a serem feitas que sem necessidade alguma tiveram resultados, mas foi com os fones de ouvido na última altura, e o porta-retrato virado para a parede, que pegou no sono sem a intenção de acordar naquele mesmo dia. Ela sabia que se amanhecesse sozinha na cama, nem seu velho amigo travesseiro desejaria sua companhia.
Foi o barulho de um carro se aproximando que a acordou, foi o desespero de olhar na janela e ver que não era ele, que a fez pedir comida pronta e assistir uma de suas séries preferidas. Só então percebeu o sol se despedindo, ela sabia que este voltaria no dia seguinte; mas sem querer magoar, não era com o sol que estava preocupada.
O céu escurecia cada vez mais, aquela sensação de que algo ainda se partia dentro de si, voltou a se cumprir lentamente. Não bastava o céu passar de azul para preto assustador, agora ela tinha um buraco no estômago que a comida pronta não foi capaz de destruir. Ela poderia tirar cada fio do cabelo conforme os ponteiros do relógio giravam, mas se lembrou que o havia jogado contra a parede naquela mesma manhã!
Foi quando aceitou que o destino o roubou, que voltou a subir as escadas; as mesmas pareciam não ter fim, suas mãos tremiam, e ela não pôde deixar de ver o anel que os dois usavam. A maçaneta voltou a girar, e assustada voltou a atenção para a porta... ele nunca perdeu o bom-humor!

- Que foi? Me atrasei para o jantar?

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