Protegida

Sua mãe sempre disse, mas você nunca ouviu. Ela sempre te pediu para voltar num horário razoável, mas você sempre quebrava as regras e entrava pela janela. Seu pai nunca te deixou sair da bolha protetora que ele construiu, e que pra você nunca existiu. Ele nunca confiou em nada que é próximo a você, e vive à procura de números suspeitos na sua agenda. Mas de repente você prefere fugir de casa durante a madrugada, ingerir bebidas esquisitas que fazem a garganta queimar, conhecer um panaca que vai roubar seu coração, sonhar acordada com ele durante noites inteiras, contar histórias à sua amiga, procurando acreditar na própria mentira, para ver se algo daquilo se torna real. E numa daquelas escapadas, ele aparece bem na sua frente, apertando a bunda de uma loira desconhecida; você dá meia volta, joga na parede tudo o que é tão frágil quanto você, e corre para a frente do espelho, se perguntando porque não tem cabelos claros, ou uma bunda tão grande quanto a dela.
Sua mãe não precisa mais repetir, agora você enxerga a bolha protetora que seu pai construiu, e não quer sair de dentro dela por nada no mundo. Você arrancou todas as folhas da agenda, mas se esqueceu que ainda tem números no celular. Sem mais escapadas durante a noite, sem mais regras quebradas; agora é você quem protege a si mesma daquilo que pode machucar. Surpresa! Segunda de manhã você e sua preguiça caminham até o colégio, e lá você encontra um cabelo bagunçado, um olhar desconhecido, um jeans lavado e um par de braços fortes. Tanto tempo se passou depois daquele dia... tanta coisa mudou depois daquela parede manchada, e só agora você se deu conta? Ops! Sua bolha estourou.