Amarga Lembrança III

Permaneceu em silêncio até pensar em algo pouco idiota para dizer à moça, mas quando separou os lábios para cortejá-la, como a dama que aparentava ser, a única coisa que soprou sobre seus dentes foi um curto:
- Boa noite!
Mal podia desgrudar os olhos da expressão curiosa da menina. Tentou de várias formas memorizar aquele sorriso marcante, antes que fosse deixado de lado por palavras sem sentido.
- Bonita gravata!
Ela focou os olhos castanhos sobre a gravata simples, ele pedia em pensamento para os pulos do coração, não serem tão perceptíveis. Já não conseguia falar, e quando sugou uma grande porção de ar, foi interrompido por mais uma dose da voz que esperou ouvir desde o começo da noite...
- Nos conhecemos?
- Não (ainda), na verdade vim acompanhado de...
E ao lançar os olhos em direção ao amigo, a garota já havia "pescado" o resto da frase.
- Michael, meu primo inconveniente e irresponsável. Você não parece nem de longe um "possível" amigo dele.
- Na verdade, eu penso da mesma forma.
Os dois mostraram os dentes brancos, num sorriso largo. A música tocava freneticamente, e os convidados finalmente pararam de cercar a aniversariante. Agora Michael havia sumido de vista, e o casal que ali conversava, provavelmente imaginava o paradeiro do rapaz.
A voz da menina, era como música para seus ouvidos, e em cada palavra que a mesma soprava, sua gravata não tinha sucesso em disfarçar os batimentos acelerados por dentro do paletó.
- Hey, desculpe-me a falta de educação... Me chamo Melissa, mas pode me chamar de Mel.
A menina estendeu a mão pequena com um de seus sorrisos amigáveis no rosto. E quando tocou aqueles dedos macios, enfeitados com anéis de pérolas discretas e brilhantes, sentiu toda a extensão do braço ser tomado por um arrepio desconfortável.
- Adam, muito prazer.
Depois de acordar de mais um ataque hipnótico, causado pelo lindo sorriso da moça, Adam pensou em algo apropriado para dizer.
- Quer beber alguma coisa? Um champagne talvez.
- Eu pensei que ninguém me perguntaria algo parecido essa noite. Champagne... é a bebida mais fraca que tem no bar desse salão.
- Me espera aqui?
- Não, te espero ali.
A dona do vestido escuro, apontou para uma pequena porta, localizada atrás de uma das grandes caixas de som.
- Vou precisar tirar esses saltos por algum tempo, e retocar a maquiagem. Me faria esse favor Adam?
- Claro!
Foi a única coisa que saiu de sua garganta seca de espanto. E após retirar duas taças de champagne do bar, foi em direção à porta, antes apontada pela menina. Abriu-a preparado para chamá-la pelo nome, quando se deparou com aquilo que o deixou com a expressão aparentemente surpresa.

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